O que o senhor Francisco Souza de Oliveira está segurando na foto ao lado não é uma melancia. Trata-se de um pepino gigante de cerca de 40 quilos, o segundo deste tamanho colhido nas hortas da família. Há também alfaces, milho, mandioca, feijão, cebolinha, quiabo, tudo cultivado ao lado da casa simples de madeira e teto de palha. Oliveira faz parte das 270 famílias que, em julho de 2008, ocuparam uma das 45 fazendas da Agropecuária Santa Bárbara, no sul do Pará. Um dos investidores da empresa é o banqueiro Daniel Dantas.
Além das hortas, há também plantações em terrenos próximos, poços artesianos, crianças sujas de terra correndo para todos os lados e uma escola, única construção de madeira. Os camponeses são ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e incomodam. Para evitar novas ocupações, Dantas e outros fazendeiros contam com empresas de segurança privada. “Até avião já usaram para jogar sementes de capim nas roças”, conta Manoel Simões, um dos coordenadores do acampamento e orgulhoso proprietário de uma horta de quiabos. “Eu prefi - ro enfrentar ameaças a viver em uma favela na cidade grande”, resume Simões.
Dantas é investigado pela Polícia Federal pela suspeita de investir em gado para lavar dinheiro. A estimativa do MST é de que, em 3 anos, o grupo do banqueiro tenha comprado 500 mil hectares de terra e 1 milhão de cabeças de gado só na região sul do Pará. As famílias decidiram ocupar a área após o banqueiro ser acusado de encabeçar uma quadrilha especializada em fraudes fi nanceiras.
As denúncias foram feitas com base na Operação Satiagraha, uma ação conjunta do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.
Há também uma disputa judicial pela área. No fi nal de janeiro, a Justiça bloqueou cerca de 10 mil hectares a pedido do Governo do Pará. A propriedade era uma reserva de castanha-do-pará, cuja concessão para extração havia sido dada à família Mutran, uma das mais poderosas da região. De acordo com Valmir Ortega, secretário estadual do Meio Ambiente, os Mutran derrubaram as castanheiras centenárias, plantaram pasto e venderam tudo para o grupo.
Banqueiro não se pronuncia
A reportagem procurou Daniel Dantas para obter um posicionamento sobre os problemas abordados, mas assessores do banqueiro disseram que a questão deveria ser encaminhada para a assessoria da empresa Santa Bárbara e que ele não se pronunciaria. A assessoria do grupo, por sua vez, informou que Dantas é apenas um entre muitos investidores e não o proprietário das fazendas, negou as irregularidades fundiárias apontadas pelo Governo do Pará e atribuiu as acusações de lavagem de dinheiro por meio da compra de gado à perseguição política. Sobre o bloqueio de terras pela Justiça, os representantes da empresa alegam que “este ataque medido e
deliberado revela a fraqueza do estado de direito no Brasil”.
Fonte: Da Folha Universal - IURD
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